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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Férias do Terror

"O fracasso nada mais é do que o sucesso tentando aparecer de maneira mais aprimorada."
Catherine Ponder

O Natal do Terror

A vida segue, eu na Pensilvânia com a família, Sofia no Brasil, com a mãe.

Um nível razoável de civilidade cria esperanças positivas, mesmo conhecendo o significado real da esperança, um sentimento reconfortante surge nos intervalos onde não penso no que a minha filha está perdendo e a razão dela estar perdendo.
Entretanto sinais de crise desenham-se no horizonte:

  1. A mãe avisa que não cumprirá o acordo de  mudar de escola no fim do ano
  2. O acesso a criança fica um pouco mais difícil, só um pouco
  3. Paro de ser consultado e passo a ser avisado sobre as decisões da mãe, como no item 1 acima
  4. ...
A lista de pequenos eventos vai crescendo, mas como o diálogo se mantém, a esperança, mais uma vez ela, de se corrigir com o diálogo vai se sustentando. Até que...

A mãe sugere que a Sofia, mais uma vez violando um acordo feito, poderia não vir para os EUA, no fim de ano.
Já tendo ultrapassado o razoável, procuro a advogada e iniciamos a atuação legal. Uma autorização para a Sofia passar as férias com o pai.
Na verdade este era um assunto cotidiano, pois estava sendo conversado sobre "O dia de Princesa".
A Carla descobriu isto e desde 2010 planejamos para a Sofia. No início de 2012 conversamos com a Sofia e ela adorou a ideia, só faltava a oportunidade. Leia-se aqui: dinheiro.
Acabou que a dinâmica da vida nos trouxe para esta terra e internalizou boa parte dos custos, não todos.
Poi bem, desde agosto este era um assunto rotineiro nas conversas com a Sofia, conversas diárias com vídeo pelo Hangout, a ferramenta do gmail.
Apesar do processo, mantive o esforço no diálogo, mas não tive sucesso.
No meio de uma imensidão de conversas com a Sofia, algumas poucas contavam com curtas participação da mãe, que foram se tornando mais raras.
Ainda consegui fazer duas reuniões objetivas sobre a educação da Sofia, sem a Sofia, mas logo a mãe sinalizou a redução de seu interesse que eu participasse das decisões sobre a criança.

Descendo a ladeira
Desde a mediação de 2012/2013, a pensão tornou-se uma divisão de gastos. Ela parou de receber cheques em branco sobre como usar os recursos da Sofia para definir sozinha o que fazer. Com a decisão dela de que a Guarda Compartilha não fazia mais sentido por eu estar longe, isto virou um problema e começou a apresentar sua demanda pela volta da pensão. Mantive uma posição clara: Não.
- "Mas existem gastos que não podem ser aferidos"
- "Claro que entendo isto, mas gastos não aferidos e sem acordo não entram na divisão. Apenas isto. Isto existia antes e continua a existir depois"
- "Precisamos aumentar o valor, pois agora tenho mais despesas. Coisa do tipo roupa, por exemplo"
- "Note que já concordamos com a roupa, não entendo por você repete isto. Você se esqueceu disto? Estime os gasto por categoria e vamos discutir." Na verdade, por estranho que possa parecer, ela tinha se esquecido mesmo. Não foi má fé, ela apenas não lembrava. Como isto pode acontecer?
Nunca retornou esta proposta. Apenas parou de mandar a prestação de contas.

Fi-lo porque qui-lo
Alguns amigos, os não muito próximos, tomam contato com esta situação de tempos em tempos. Ninguém fica chorando este tipo de problema para os amigos. Num deste momentos eu ouço a seguinte pergunta:
-"Por que ela age assim?
Bem, vamos definir "agir assim"
  • Mente
  • Dificulta a convivência com a Sofia
  • Ameaça o pai
  • Pede judicialmente o afastamento do pai e ganha o que deseja, mas não de forma definitiva
  • Se apodera dos dinheiro da Sofia para seu uso próprio
  • Se apodera do dinheiro do casal para si
  • Coloca seu bem estar acima do da criança
  • Recusa o acesso do pai aos documentos da criança
  • Ignora a situação jurídica de Guarda Compartilhada, como definida em processo pelo TJRJ
Hum...Deixe-me ver?
Por que pode. Por que tem a firme percepção que não existe punição.
Percepção esta bem razoável, pois foi criada e é sustentada por décadas pelo judiciário. Pela sociedade.

No judiciário
O pedido segue e é recusado.
Descobrimos algo errado no pedido e a advogada vestiu a camisa para corrigir a situação.
Consegue, mas aí será outra história.
Mantenho o esforço para conseguir a concordância da mãe, mas ela entra com uma contestação negando que seja uma boa ideia a Sofia viajar com o pai.
Inacreditável, mas ela não se intimida, coloca isto por escrito mesmo tendo acompanhado dezenas de conversas sobre o que faríamos na Disney e mesmo ela tendo sido convidada para vir conosco, pois assim seria melhor para a Sofia. Note que o convite é de junho.

Antes de chegarmos ao Brasil
Comunico a mãe que se ela impedir que façamos o que foi planejado não existirá plano B. Não existe recursos financeiros e nem de tempo para conseguirmos contornar a insanidade dela de negar isto a Sofia e que, conforme outras vezes, devíamos falar para a Sofia juntos algo desta magnitude. Que ela não viajaria para Disney e as razões disto. Levante a mão quem acredita que ela teve coragem de dizer para Sofia que a razão era apenas sua objeção. Nenhuma resposta para os meus pedidos de marcarmos juntos esta conversa.

Fechando esta parte da história
Por causa do erro no pedido original, tivemos uma recusa do judiciário. Absurdo, mas é isto mesmo.
A advogada reorganizou tudo e reapresentou o pedido. Fez o trabalho dela e conseguiu a autorização judicial, mas...
Conseguiu aos 47 minutos do 2º tempo. Isto mesmo. 
A Sofia continuava, alheia a tudo, no maior dilema de sua vida até o momento: Qual princesa representaria melhor sua autoimagem?
A juíza assinou, levantou da cadeira e foi para o recesso. Não chegou a ser digitado. Só entraria no sistema lá pelo dia 07/01/2014.

Resultado:
Apenas nós sabíamos que existia uma autorização judicial.

Não sorria, isto não foi realmente um período bom e descreverei depois os motivos.
Já a Sofia não parava de sorrir. :-)

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Como Fazer uma Proposta

Negociação
"A negociação pode ser praticada tanto para resolver questões pessoais, como para questões profissionais, em ambientes políticos, comerciais, diplomáticos, institucionais, gerenciais, jurídicos, trabalhistas, de libertação de reféns, entre outros."
Fonte: Wikipedia

Vamos tentar localizar isto no tempo. A ida para os EUA já estava definida, mas a participação da sofia ainda não.
Como conduzir um conversa com grande potencial de fracasso?
Configura-se, desta forma, mais uma situação onde corre-se o risco de flertar com a insanidade. Dois pontos a refletir:

A sensação de estar certo não é uma boa companheira
Não é possível acreditar que alguém posicione-se de forma tão aberta contra os interesses de uma criança. Este sentimento é ruim, pois tem o poder de te tornar inflexível. A convicção de estar certo não é uma boa companheira em todos os momentos. Assistir isto, certo que é tudo absurdo, é um problema contínuo.

Problema e Fato
Problema é o que se resolve. Fato é aquilo que aceitamos.
Primeira Proposta
Confundir os dois pode produzir um alto custo emocional.
Fiz uma lista dos argumentos que poderiam ser usados contra o estudo da Sofia nos EUA.
Cada item, dos mais variáveis níveis de razoabilidade, foi avaliado, respondido e ajustado visando o maior conforto possível da criança e da mãe. Umas 4 pessoas participaram deste processo que se arrastou por 5 dias.

A Ética da Negociação
Uma vez um amigo compartilhou comigo sua visão sobre eleição e objetivos sociais.
Eleição é uma coisa, governar é outra. Só muda o mundo quem governa. Não misture-as, mesmo dizendo publicamente que é tudo a mesma coisa.
Sempre entendi e respeitei esta abordagem, resultado da extrema credibilidade do meu amigo, mas também sempre me incomodou. Entendo que no conflito entre a minha consciência e o bem estar de quem dorme na calçada, define-se um ponto complexo. O que é mais importante. Tirar o cara das ruas ou eu dormir sem problemas de consciência. Qual deve ter sido a escolha do José Dirceu?

Vários pontos podem ser relegados para negociações futuras. Qualquer manual de negociação ensina, que uma vez avaliada um a proposta razoável, você deve reservar este pontos para avançar no "campo de consenso". Optei por ignorar isto. Todas as ideias que agregavam foram incorporadas. Não tínhamos muito tempo e preferi manter uma diálogo aberto. Ouvi criticas sobre esta minha decisão, mas no final, como eu sou o responsável, eu decido.

Decartes nos ensinou
Divida o grande problemas em pequenos, solucione-os e junte tudo.
Fui por aí. Uma longa lista de situações, ganhos e vantagens focados no desenvolvimento da Sofia foram listados e estudados.
Sobre a mãe uma primeira lista, não discutida diretamente, de problemas foi formulada. Desta lista um conjunto de ações para mitigar a rejeição surgiu. Esta lista sim, incorporada à proposta veio, de forma discreta sendo incorporada. Usei sendo, pois apesar de estar tudo visível desde o primeiro contado, seu detalhamento se fez com a participação da mãe. Cada ponto levantado por ela estava previsto ou foi primorado.

Toda a engrenagem rodava, mas como já sabia, existe o Paradigma do Judoca Nu.
Consegui conduzir a plenária para um espaço com dois mediadores e um observador.

Para fechar rapidamente
  1. Frechamos duas propostas bem razoáveis
  2. A mãe foi pensar em casa e voltaria com uma escolhida
  3. Voltou com o aviso que não existiria mais diálogo e acabou
Lições Aprendidas
...
A pequena já perdeu 30% do que existiria para ela. Não existe proposta boa, ou negociação razoável, se o sistema não premia o bom comportamento. Se o sistema não se respeita como sistema e abandona a defesa seu próprio discurso do "Melhor para o Menor".






domingo, 12 de janeiro de 2014

Fazendo as Malas

Impotência
s.f. Falta de poder, de força.
Qualidade de impotente.
Impossibilidade física ou moral.
Fonte: Dicionário online de Português
Finda a tentativa de diálogo, que definiu-se como uma esperança no sentido clássico, corro para uma advogada.
Descubro o que já desconfiava, os tempos do judiciário não são compatíveis com s tempos das pessoas. Adequado lá é lento aqui. Isto não se configura como um problema, é um fato.
Com tudo para arrumar, uma vida virando de pernas pro ar, a mulher surtando e uma filha triste sentindo-se abandonada...
O que mais faltava?
A mãe da Sofia criando problemas. Nega uma fotocópia da carteira de identidade, tirada por mim. Recusa uma cópia da carteira de vacinação... e outras mais.
Cria problemas para buscar as roupas e pertences da Sofia, tudo que ficava comigo deveria ir para a casa dela.
A Sofia fica perdida entre nossos esforços para fazer a mudança e o novo cenário dela ficando para traz.
Junta-se toda a papelada e a advogada inicia o processo.
Beijos no aeroporto e partimos.
Gosto amargo na boca quando o pai do meu enteado pergunta qual era o problema com a Sofia.
Gosto muito amargo quando percebo o consenso entre as pessoas que quem perde é a minha filha e eu não consigo fazer nada...

O império do nonsense contra-ataca

Nonsense ("sem sentido", em inglês) é uma expressão inglesa que denota algo disparatado, sem nexo.
Fonte: Wikipedia

Quando a mediação, evocada pela mãe da Sofia, começou existia um grande medo da minha parte. O mesmo de 2009, quando eu apresentei a proposta. A "Missa de Corpo Presente".
Trata-se de uma estratégia, já conhecida, adotada por indivíduos beligerantes desde o início da mediação do judiciário brasileiro.
A pessoa, que já age com a percepção que sempre ganha com o conflito nas varas de família, se vê encurralada e tem que ir para a uma mediação. Pois bem, vai e fica como morta. Indiferente a tudo e intransigente são duas abordagens que eu ouvi com alguma frequência de outros pais que caíram nesta armadilha.
Por que armadilha?
Da mediação só sai um acordo ou um parecer dizendo que um acordo não foi possível, nada além disto. Alguém que aplica a "Missa de Corpo Presente" ganha a máscara que tentou uma diálogo, mas na verdade o único objetivo era o parecer da tentativa. Uma certidão dizendo que todos procuravam um acordo.
Nos primeiros 20 minutos eu me vi nesta armadilha. A mãe da Sofia marcou a posição que não havia o que negociar. Que qualquer afastamento da criança não estava em questionamento e pronto. Como ela continuou falando eu vi ali o surgimento de uma oportunidade. Ela falou por quase uma hora. Quando terminou e lancei um forte observação:
Você notou que o sujeito de TODAS as tuas frases foi a palavra "eu"? Não seria de se esperar que algumas delas fossem focadas na Sofia?
Aí entraram as mediadoras e a missa começou a ser desmontada.
Horas depois, quase 3, saímos com duas propostas:
  • Sofia muda-se agora
  • Sofia muda-se no fim do ano
Finda esta etapa comuniquei, exultante, a Sofia a situação atual. Ela vibrava. Ira estudar por 3 anos no exterior e sempre que não tivesse aula iria para o Brasil ficar com a mãe.
Mais detalhes em "Como Fazer uma Proposta".
Sete dias depois, novo encontro na mediação.
Abrimos as atividades com as mediadoras fazendo uma lenta e longa defesa da imparcialidade delas. Todos sabíamos que a imparcialidade não tinha sido o ponto forte do último encontro. Na tempestade de argumentos frágeis apresentados pela mãe da Sofia as mediadora acabaram refutando um n. considerável de absurdos e, agindo assim, foram parciais.
Estudos indicam que mesmo símios tem pouca tolerância com injustiças dentro de seu grupo. Exigir que duas mães assistam impassíveis aos absurdos ditos por horas a fio que afetam a vida de uma menina de 6 anos é um objetivo de alta exigência. Mesmo assim soou exagerada tanta explicação.
Logo depois a mãe da sofia comunicou que não haveria nenhum acordo.
As mediadoras se calaram, eu lancei alguns apelos a razão que não fizeram efeito e pronto.
Minha 1ª "Missa de Corpo Presente". A Sofia fica no Brasil, o resto da família viaja para State College.

PS: O longo intervalo entre este o o post anterior é devido ao enorme mal estar que esta situação causou em mim. Isto estava escrito deste o mesmo dia do outro, mas eu evitava tocar neste assunto.