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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Terapia para quem tem fome

Existe o mito do homem macho. Não sei se é um mito latino, se é ocidental, universal ou se apenas uma piada que ainda possui seguidores que a levam a sério. Apenas sei que existe.
Este modelo define vários comportamentos esperados. Macho não faz isto, macho faz assado, macho assim, macho lá...

Macho não se abre. Macho não precisa lidar com sentimentos.

Bem, não estou certo se isto faz realmente sentido, mas se fizer já optei por ser macho meia-boca.

Não sei como é o universo neurótico dos outros, mas o meu é bem conhecido por mim.

Desde que me entendo por gente, talvez lá pelos 8 ou 9 anos, lembro de reflexões sobre o sentido da vida e o significado oculto dos eventos. Oculto sim, pois aquela baderna deveria ter algum significado.

Ótimas épocas as que ainda malhava filosoficamente.
Era uma crença que fazendo uma certa força eu me aproximaria da verdade, por lógica existira um volume de esforço, diferente de infinito, que me traria a verdade verdadeira. Fácil não. Era só uma questão de esforço e tempo.
Como cheguei à terapia.
Pois bem, por pancadas:

Pancada 1
A mãe da Sofia pede e sustenta o fim do relacionamento. Putz, não foi fácil. Sem conseguir definir agora a razão do procedimento que eu adotei, eu o adotei.
Primeiro as mãos, depois molhe os pés e então mergulhe na água gelada.
Nada disto. Entrei com tudo. Sofri. Sofri muio e sofri rápido. A profundidade do sofrimento não é visível aos outros, já o tempo é fácil de ser medido. Desta forma recebi críticas pela velocidade, mas ninguém avalia a intensidade do sofrimento.
Críticas, veladas é claro, vieram até da equipe técnica do fórum. Aquela que o estado coloca para legitimar sua decisão, seja lá o que o estado decida fazer na tua vida privada, quando existe um conflito judicial e um criança envolvida.

Neste momento uma amiga me pressionou: "Vá fazer terapia".

Nada disto. Gerencio minhas crises. Choro na boa e nunca perdi 2 noites consecutivas de sono.

Crise superada, bola rolando no campo.
Não éramos mais uma equipe, então eu tinha que fazer de tudo.
Só o café da manhã, levar a creche, brincar diariamente e um banho eventual não eram mais o suficiente.
Tinha que gerenciar as necessidades da Sofia.
Ok, sem crise, mas com alguma tensão...
Um problema por vez. Foram muitos e bastante gratificantes.
Como eu sempre digo: "Vim para me divertir".
Sempre me diverti com a Sofia.
Transformar a troca da fralda suja em brincadeira não foi difícil.
Sofia ria...

A crise passou. Sofia premiava-me periodicamente.
É difícil eu acreditar que ela não sabia o que acontecia na época.
Como uma criança de apenas 2 anos pode adotar uma sequencia de comportamentos motivacionais como ela adotou. Bem na época onde eu realmente precisava disto, já que a mãe deixara claro que não esperava nada de mim. Numa frase: "Pode ir cuidar da tua vida que da Sofia cuido eu."

Sem rancor, ou mesmo desconforto, tudo se rearranjou.
Ou eu acreditava nisto.

Pancada 2
Aí, a mãe da Sofia, ao completar seis meses de separação, decidiu brigar.
Sejamos claros, seis meses depois a importância dela na minha vida já tinha sido substancialmente reduzida, até por consecutivas decisões dela própria. Sem mal estar, mas de forma bem realista, ela optou por ser "uma amiga distante". Até aquele momento.
Mas ela usou a Sofia. Todos sofremos e Sofia teve uma crise.

Minha filha sofrendo, a genitora assistindo a tudo. Tendo a frieza de registar o problema por escrito na comunicação com a escola, que também registrava isto e priorizando o conflito criado por ela ao bem estar da criança. Uma criança de 2 anos e 4 meses.
Neste momento a minha amiga me pressionou: "Vá fazer terapia".
Aí sim, fui fazer terapia. Fiz isto na esperança de não fazer outras coisas.

Então temos o estado. Ele chegou, definiu que a mãe estava certa. Confirmou numa sentença parte dos desejos dela, que pediu visitas quinzenais de 1 hora supervisionadas e definiu as condições de convivência entre o pai e a criança quinzenalmente e pronto. Outro post.

Passeando por aí, na blogosfera, achei isto:
"Por que o Brasil que é conhecido pelo seu povo cordato, cordial, não belicoso, se tornou um povo de elevada violência? Uma pesquisa do Journal of the American Medical Association mostra o porquê..."
Como reduzir a violência no Brasil.

Esta abordagem é clássica, acho que dispensa a defesa da ideia.

Considerando:
  1. o sofrimento causado à Sofia
  2. o planejamento e a execução dos planos da mãe, cuja prioridade era algo, mas não a criança
  3. a incapacidade do estado de socorrer quem precisava de ajuda
Hoje tenho uma amiga terapêutica que conversamos.
Toda a semana eu decido parar a terapia, mas prossigo.
Talvez seja na próxima semana. :-)

Já levei umas 3 pancadas boas dela. Ela, obviamente, acha que o nº é maior.
Certamente ajuda na reflexão, mas como disse, estou quase parando. Fazem meses que acredito nisto.

Várias questões sobre a educação da Sofia, nossas rotinas, opções de modos de agir, reinterpretações dos eventos e outras coisas, fazem parte da nossa conversa semanal.

Nunca gostei desta ideia: fazer terapia.
Na verdade ainda não sei se gosto, mas tem sido útil.

Algumas ideias ruins continuam sendo discutidas e manter a discussão eu vejo como algo saudável.

Muito saudável para a Sofia, que toda semana participa, como assunto, das conversas.

Existem vários motivos para se pensar nisto.
Avalie, você que está em meio a uma crise. Poder ser um instrumento muito útil na gestão da crises.
Principalmente se a tua prole cair na classe definida judicialmente:
"Filhos de pais párias"
Pai aqui é gênero masculino mesmo.
Pai pária é 100% dos pais, homens, separados que não decidiram abandonar a prole. Deve ser um tipo de crime, pois os estado desestimula objetivamente a continuidade do pai no seu papel após a separação. Mas não espere ver isto escrito ou dito objetivamente. O cinismo é enorme. Em todas as instancias do judiciário.

Por recomendação da equipe técnica do Forum, eu procurei uma ONG, que também fez contato com a mãe da Sofia.
Mais uma vez eu afirmei:
"A mãe da Sofia não tem interesse no diálogo. O estado premia sua beligerância e ela sustentará esta posição enquanto a percepção de ganho superar o risco de perda. O estado tem feito um ótimo trabalho neste área, infelizmente contra a minha dignidade como cidadão e agredindo os reais interesses da Sofia."
Outras profissionais que ficaram indignadas com a aspereza da minha declaração.

A mãe da Sofia disse, mais uma vez, que não se interessaria no processo de conciliação. Surpreendente, não?

Ok, ganhei outro espaço terapêutico. A equipe que trabalharia no processo de mediação tornou-se uma equipe terapêutica.
Não com um profissional, mas agora com 6.

Surgem algumas questões:
  1. Será que o suporte social na Suécia tem este nível de apoio que eu consegui? :-)
  2. Será que eu conseguirei transportar este nível de apoio para os interesses objetivos da Sofia?
O tempo passa...
O grupo me dispensa, por ser pouco útil a abordagem apenas comigo.
Ok, mas também se recusa a me dar por escrito qualquer coisa, nem mesmo um registro que a mãe não teve interesse o diálogo. Se ainda insisti no ponto abordando que estaria dentro dos limites da "Mediação" uma declaração de não comparecimento da outra parte, ouvi que o trabalho deles, apesar de usar parte da metodologia, não se comprometia com ela na plenitude... :-(

Enquanto sito...
Sofia cresce, fica linda, torna-se charmosa e tem uma gargalhada fantástica.
Coisa de louco. :-)

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